Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

'Redescobrir' celebra Elis com reverência sem jamais diminuir Maria Rita

Resenha de CD / DVD
Título: Redescobrir
Artista: Maria Rita
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Há certa má vontade da imprensa musical em relação ao lançamento em CD, DVD e blu-ray (este nas lojas a partir de 18 de dezembro de 2012) de Redescobrir, o show - originalmente intitulado Viva Elis - em que Maria Rita celebra a vida e a obra de sua mãe Elis Regina (1945 - 1982). Efeito provável de a cantora ter sempre afirmado em entrevistas que não iria registrar o espetáculo concebido para ter somente uma apresentação restrita a convidados e cinco apresentações gratuitas, feitas ao ar livre, em espaços públicos. Pois o tributo acabou gerando turnê e virou disco. Que deixa estacionada a obra fonográfica de Maria Rita, é verdade, mas que nem por isso deixa de reiterar a grandeza da cantora. São poucas as intérpretes capazes de encarar 28 músicas já gravadas com o padrão Elis Regina de qualidade sem sair do tom (geralmente alto). Maria Rita é uma delas. Talvez seja mesmo a única por força do d.n.a. - e o fato é que, mesmo fora do contexto original e da atmosfera de emoção que cercou a estreia nacional do show em março de 2012, a gravação ao vivo de Redescobrir preserva grande parte de sua força, apresentando às novas gerações um repertório de alto nível que transita entre samba, samba-canção, bolero, samba-jazz e canção. Por si só, a seleção das músicas já diz muito sobre a importância e o legado de Elis. Pena que os textos ditos por Maria Rita ao longo do show - para contextualizar parte deste cancioneiro - tenham sido suprimidos na edição do CD e DVD Redescobrir (há somente um texto escrito ao fim do DVD e, nos extras, algumas falas de Maria Rita sobre a homenagem). Sem os textos originais do roteiro, nem todos os ouvintes vão entender que o samba-canção Vida de Bailarina (Américo Seixas e Dorival Silva, 1953) - cantado em clima que evoca a noite dos dourados anos 50 - tenha sido alocado no roteiro para lembrar a influência que a intérprete original do tema, Ângela Maria, exerceu sobre Elis no começo da carreira da Pimentinha. E por falar em referências, a mais explícita de Elis em Redescobrir é a inserção do sample de sua gravação de Imagem (Luiz Eça e Aloysio de Oliveira, 1967) no meio do registro de Maria Rita, que canta este tema do pianista Luiz Eça (1936-1992) com os versos escritos por Ronaldo Bôscoli (1928-1994) para a abertura do programa O Fino da Bossa e gravados por Elis no álbum Dois na Bossa nº 3 (1967), e não com a letra mais conhecida de Aloysio de Oliveira (1914 - 1995), creditado erroneamente no lugar de Bôscoli na ficha técnica de Redescobrir. Imagem aparece já na abertura do show, como ode ao canto e à comunhão do cantor com o público, altamente receptivo a esse tributo extremamente reverente. A gravação ao vivo do show, aliás, reforça a reverência absoluta com que Maria Rita aborda o fino cancioneiro de Elis, seguindo com total fidelidade a linha de interpretação de sua mãe ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, Rita se afirma como intérprete segura, brava, hábil no trato de músicas difíceis. Enfim, Redescobrir está nas lojas, já alvo de amores e ódios. Necessário para uns, oportunista para outros, o tributo de Maria Rita a Elis Regina Carvalho Costa divide opiniões, mas a grandeza das cantoras, mãe e filha, permanece inquestionável. A imensidão de Elis jamais diminui o tamanho de Maria Rita.

24 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luca disse...

Fico com a original, não aceito imitações.

Rafael disse...

O disco não é ruim, porém não é memorável.

KL disse...

Fico com a original, não aceito imitações. (2)

jose disse...

Mais uma vez concordando com o Luca. A maior vergonha musical desse ano. No inicio do ano noticiado como homenagem em somente 5 shows gratuitos agora produto vigarista de Natal.

Douglas Carvalho disse...

Maria Rita realmente parece demais com Elis. Mas que culpa ela tem de ser quase tão boa quanto a maior cantora brasileira de todos os tempos, e mais, se tem alguém que tem direito de parecer com Elis, esse alguém é sua filha.

Elis deve estar orgulhosa em algum lugar, com uma gengiva enorme à mostra e os olhinhos apertados num sorriso escandaloso. O seu DNA fez ume belíssimo trabalho e nos deu mais uma GRANDE cantora.

Guilherme disse...

Maria Rita é uma grande cantora, mas já noto que ela não tem faro musical para construir uma "obra" relevante para além do seu primeiro disco. Produções conservadoras, opção por um leque restrito de compositores, as mesmas caras e bocas e muito mau gosto na hora de embalar isso tudo (coisa que esta capa tenebrosa atesta).

Maria disse...

Concordo com o Luca.

Yuri disse...

Confesso que tenho tido uma certa implicância com os últimos trabalhos da Maria
Rita - sobretudo pelos excessos estilísticos (talvez parte de sua personalidade como cantora, talvez necessidade de "mostrar serviço", por motivos óbvios). Ontem ouvi "Redescobrir" e fiquei muito bem impressionado. Realmente são poucos cantores capazes de abordar esse repertório com tamanha propriedade. Claro que são vozes quase idênticas - e aqui isso fica muito evidente - mas é bonito observar que, a despeito da reverência que uma homenagem demanda, Maria Rita impõe sua personalidade e consegue criar algumas interpretações próprias. Espero ansiosamente o dia em que ela olha para dentro de si, "recolha" seus vibratos ostentatórios, a necessidade de usar o vozeirão, a força, um certo apelo que ela me parece buscar, e sinta-se livre para cantar. Aí então, creio que teremos uma cantora do mesmo nível de Elis.

Coisas do Sertão disse...

Emanuel Andrade

Vi esse show duas vezes e vou comprar o DVD. Sinceramente não fico estagiado e nem maluco.Mas não consigo fica 'proseando' o blá blá do parece ou não com a mãe. Ninguém mastiga isso com os filhos de Jair, Simonal, Zizi Possi, Gil.. Nesse projeto os músicos que estão lá tem outra linguagem em relação a turma que andava com Elis.
Quanto a questão da má vontade da imprensa é melhor que não se escreva nada. Porque não há mais bons nomes para escrever bons textos e resenhas. Só matérias sem conteúdo. Ouuuu releases sobre o lixo do sertanejo universitário e sobre Paula Fernandes. Já li num jornal alguém dizer que Maria Rita relembra "Aguas de Março, de Vinicius de Moraes". Ai é demais. Ela foi feliz em homenagear a mãe e o fez bem em seu direito. Agora, acharia melhor ela demover da ideia de reler Caetano pra não cair no lugar comum diante tantas homenagens ao baiano. Valeria Milton, Ivan Lins, Tom, etc, que ainda não teve graaaaandes releituras. Vou comprar o DVD sim.

Marcelo disse...

Não consigo entender o pq dessa mania e perseguição com a Maria Rita. Será que as pessoas não conseguem separar uma coisa da outra??? Elis era Elis, Maria Rita é Maria Rita. E uma vive sem a outra. Se ela fosse desprovida de talento, voz e carisma, mesmo sendo filha de quem é, jamais conseguiria fazer um tributo desse tipo.

Anônimo disse...

Faço minhas as palavras do Guilherme.
Porém, gosto do segundo disco e o canto da Maria Rita me agrada bem mais que o de Elis.
Maria é mais doce, mais cool e menos histriônica.

EDELWEISS1948 disse...

ELIS. UNICA.

Marcelo disse...

Elis é única assim como Maria Rita também é!!!!

Fernando Lima disse...

Acabei de ouvir ao disco, muito bem gravado, por sinal, e fiquei triste com a retirada das falas de MR. Gostei do show e acabei esquecendo da péssima impressão que fiquei com "Elo", o disco anterior. Fiquei impressionado especialmente com "Morro Velho"! Mas, com certeza, se as falas de MR estivessem lá, com certeza, o registro ficaria mais quente. Incrível como retiaram até os agradecimentos da cantora. Pena... Mas acho que, com esse disco, MR volta a figurar entre as maiores cantoras da atualidade. Adoro Elis, mas acho que MR brilha sozinha.

Pedro Progresso disse...

Maria Rita não está cantando mal. O disco inclusive ficou melhor que qualquer um dos 5 shows (mais segurança e firmeza na voz). Mas tb não está cantando tão bem a ponto de merecer registro.

Em alguns momentos isso fica evidente: Vida de bailarina, Águas de março, Zazueira, Menino, Querelas do Brasil, Onze fitas - não são pro bico dela. Chega a ser incômodo a falta de jeito que ela tem ao interpretar essas canções.

No mais, o cd fica melhor sem textos pq pra disco fica muito sem ritmo a não ser q vc for Maria Bethania. Deveria ter ficado tudo no dvd (nao assisti ainda).
Valeu por Bolero de Satã, Me deixas louca e mais uma ou outra. E a bela homenagem de mãe pra filha. Mas é só isso mesmo.

Pedro Progresso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Progresso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leandro/RJ disse...

Mauro, boa noite. Existem 2 letras para a canção "Imagem", de Luiz Eça. Uma é de Aloysio de Oliveira. A outra foi escrita por Ronaldo Bôscoli para ser tema do programa "Fino 67" (antigo "O Fino da Bossa"), apresentado por Elis Regina, do qual ele e Miele eram diretores. Essa é a versão gravada por Elis e por Maria Rita.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Leandro, pelo esclarecimento. Pesquisei e vi que vc tem razão. Encontrei a letra do Aloysio de Oliveira. Ao resenhar o show na estreia e ao postar o roteiro, creditei a letra a Bôscoli, como está no disco de Elis. Mas, como Redescobrir credita 'Imagem' a Luiz Eça e a Aloyiso na ficha técnica, achei que o erro fosse do disco de Elis. Abs, mauroF

Rhenan Soares disse...

O registro é belíssimo. Maria Rita está mais do que competente em cena. É tudo muito forte e emocionante. Emoção sincera, intensa...

Se é o registro é oportunista ou não, é o que menos importa. Afinal, a herança (de talento e capital) é mesmo dela, não é? Então, pouco me importa....

Anônimo disse...

O show é lindo, assisti duas vezes, mas achava meio cansativo tantas explicações e elogios que ela fazia em cena. Ótimo que foi retirado. Em relação a música da fátima guedes, acho que a Maria Rita apresenta de uma forma muito bela, não sei se desafina, não sou músico, quero apenas gostar e me emocionar e isso eu consigo com MR.

admin disse...

Hoje em dia fica difícil até entender uma homenagem. Em "Redescobrir" não há a intenção de imitar, substituir, mas de elevar, divulgar para as gerações mais jovens um talento único como são todas as pessoas. As vozes são mesmo muito parecidas, mas é Maria Rita cantando com emoção, carinho, devoção canções de uma mãe que ela deve se lembrar pouco e que o canto aproxima. Também não consigo compreender porque da polêmica, apesar de me confessar suspeita. Tenho um amor muito especial pela Maria Rita que conheço como pessoa linda, ser humano, além de grande cantora.
Mas nem tudo é injusto, seus fãs vibram com sua voz, sua presença, seu talento e penso que isso seja o grande reconhecimento.

Sandro CS disse...

Ninguém mais legitimado a lançar esse trabalho do que a Maria Rita. Não é oportunista, não é vigarice de Natal. É reencontro de mãe e filha (daí o "Redescobrir"). E para quem sempre foi fã da Elis, é momento raro! Já gostava da Maria Rita e agora passei a ser fã assumido. Vou comprar o Blu-ray assim que sair.